A diversidade cultural no ambiente de trabalho é estratégica para o enriquecimento da cultura organizacional, proporcionando um ganho sensível para as relações humanas.
Também pode beneficiar os negócios ao aumentar a produtividade e os lucros da empresa, a partir das ideias inovadoras que podem surgir em um ambiente com pessoas diversas.
Relacionada aos costumes de uma sociedade, a diversidade cultural envolve vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos. No Brasil, um país de dimensões continentais, existem diferenças climáticas, econômicas, sociais e culturais entre as regiões.
Neste sentido, a diversidade cultural está relacionada ao sentimento de pertencimento e aceitação da identidade de cada indivíduo que faz parte de um grupo.
Inclusive, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) diz, no artigo 4 de sua Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, que:
“A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético, inseparável do respeito pela dignidade da pessoa humana. Implica o compromisso de respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, em particular os direitos das pessoas que pertencem a minorias e os dos povos autóctones (nativos ou indígenas). (destaques nossos)
A organização argumenta ainda que a diversidade cultural amplia as possibilidades de escolha que se oferecem a todos.
Aponta-a como uma das fontes do desenvolvimento, não somente em termos de crescimento econômico, mas também como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva, moral e espiritual satisfatória.
Vale destacar que a diversidade, em si, abrange todos os fatores que constroem um indivíduo, como idade, gênero, nacionalidade, crenças, personalidade, orientação sexual e status sociais.
Assim, para que a diversidade cultural no ambiente de trabalho aconteça, todos esses fatores devem ser manifestados de forma ampla e predominante. Continue a leitura e se aprofunde mais neste tema!
O que é diversidade cultural no ambiente de trabalho?
A diversidade cultural acontece, efetivamente, nas organizações quando há um entendimento comum de que pessoas com diferentes backgrounds e experiências de vida podem contribuir significativamente para os resultados da empresa.
O que nos torna produtivos é, em grande medida, a motivação. Por isso, sentir que pertencemos a um grupo e termos bom relacionamento com colegas de trabalho são aspectos que influenciam diretamente a nossa produtividade.
Um ambiente diverso culturalmente, portanto, ajuda todos os colaboradores a se sentirem valorizados. Deste modo, fica muito mais fácil quebrar as barreiras que nos travam na hora de desenvolver relacionamentos, e a motivação aumenta.
Além disso, quando os diferentes profissionais que integram uma empresa vêm de culturas variadas, torna-se uma tarefa muito mais fluida se conectar com um público maior e, também, mais diverso.

Qual a importância da diversidade cultural para o trabalho?
Reforçando os pontos abordados até aqui, um estudo feito pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), sobre o impacto da diversidade no mercado de trabalho, mostrou um aumento da produtividade das empresas entre 2010 e 2019.
Segundo o levantamento, para cada 10% de aumento na diversidade étnico-racial, observou-se um incremento de quase 4% na produtividade das empresas. E mais: para cada 10% de elevação da diversidade de gênero, verificou-se um acréscimo de quase 5% na produtividade das empresas.
O estudo do ID_BR apontou que o ganho em produtividade observado está atrelado aos seguintes fatores:
- Melhorias no nível de bem-estar predominante entre as pessoas na organização;
- Composição de quadros com competências e habilidades mais diversificadas;
- Melhorias no clima organizacional que atuam na potencialização da performance dos/as profissionais;
- Declínio do turnover, ou seja, da rotatividade de profissionais nos times das empresas;
- Maior capacidade da organização em atrair profissionais com elevadas habilidades e competências, mas que também priorizam ambientes de trabalho mais inclusivos e menos hostis.
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Quais são os tipos de diversidade no ambiente de trabalho?
Abordaremos, a seguir, os cinco principais grupos de diversidade nas empresas. Mas, é fundamental entender que este conceito pode ser entendido a partir de vários aspectos diferentes. Como você viu até aqui, a diversidade está relacionada às múltiplas características que formam a identidade de um indivíduo, como:
- Idade;
- Gênero;
- Etnia;
- Orientação sexual;
- Convivência com algum tipo de deficiência.
1. Idade
A diversidade etária consiste na admissão de todos os tipos de idade entre os profissionais de uma empresa. Ela se faz necessária porque a idade pode ser um fator relevante de discriminação no trabalho. Diante disso, deve-se incentivar a integração das gerações, desde o processo de recrutamento até o de promoção de colaboradores.
Em uma pesquisa realizada pelo Infojobs em abril de 2021, com cerca de cinco mil profissionais, 68% dos respondentes apontaram que os profissionais com mais de 40 anos precisam estar mais preparados para competir com as novas gerações e que, ainda assim, isso muitas vezes não é suficiente.
Em 2020, a taxa de desemprego de pessoas com 50 anos ou mais no Brasil chegou ao nível mais alto (7%) desde 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Diante dessa valorização de pessoas mais jovens pelo mercado de trabalho, é importante ter em mente que, até 2050, teremos mais idosos do que jovens no mundo todo.
Portanto, os trabalhadores mais experientes precisam ser valorizados, assim como as suas habilidades e conhecimentos, muito relevantes para o sucesso de uma empresa.
2. Gênero
Homens e mulheres precisam ter os mesmos direitos, deveres e oportunidades profissionais. A desigualdade de gênero continua sendo uma realidade e, no Brasil, esta disparidade ainda é preocupante.
Dados do IBGE indicam que mulheres ganham 20,5% a menos do que homens. Ou seja, é urgente que as companhias se mobilizem para a promoção da igualdade e equidade entre os gêneros.
Vale pontuar que a diversidade cultural no ambiente de trabalho não deve estar ligada apenas a números. É preciso que haja uma política que a faça parte da cultura da empresa.
Isso significa que, mais do que ter uma proporção igualitária entre homens e mulheres, por exemplo, deve-se atentar à forma como esses profissionais são ouvidos e tratados na empresa, de modo que seus pontos de vista sejam, de fato, contemplados internamente.
3. Etnia
A diversidade étnico-racial engloba o combate ao racismo estrutural e a qualquer outra forma de discriminação motivada pelas características de um povo. O artigo 1º da lei 12.288, de 20 de julho de 2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial, traz alguns conceitos fundamentais neste sentido:
I – discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada;
II – desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica;
III – desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais;
IV – população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga;
V – políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais;
VI – ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades.
No mercado de trabalho, é ainda evidente a pouca representatividade de pessoas negras em posições de liderança. Menos de 5% dos cargos gerenciais são ocupados por negros, de acordo com o Instituto Ethos.
4. Orientação sexual
As oportunidades profissionais precisam também ser iguais para as pessoas independentemente de sua orientação afetivo-sexual. Para tanto, é necessário combater atitudes e comportamentos homofóbicos dentro da organização.
A pesquisa Diversidade e Inclusão (D&I), realizada pela consultoria global Great Place To Work (GPTW), mostrou que a grande maioria das pessoas em cargos de chefia, direção e presidência são pessoas cis heteronormativas (92%). Isto é, que se identificam com o sexo atribuído a elas ao nascer e se atraem pelo gênero oposto.
De modo geral, apenas 10% dos funcionários se autodeclaram LGBTI+. Já no recorte de colaboradores em cargos de liderança, apenas 8% são LGBTI+. Em cargos de presidência, o percentual cai para 6%.
Diante disso, é preciso que as empresas se esforcem para criar políticas de respeito, integração e focadas em tornar o ambiente corporativo mais diverso.
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5. Convivência com algum tipo de deficiência
Segundo informações do IBGE, cerca de 24% da população brasileira se reconhece como pessoa com deficiência (PCD). Isso significa que em torno de 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência.
Os números expressivos evidenciam a importância de incluir essa parcela da população no mercado de trabalho a partir de ações que sejam, de fato, efetivas.
A Lei de Cotas, por exemplo, é uma forma de assegurar essa representatividade. Ainda assim, as empresas precisam trabalhar duro para incluir e investir realmente no desenvolvimento dessas pessoas.
Qual a relação entre diversidade e ESG?
A diversidade nas empresas está entre os fatores que integram o “S” da sigla ESG (environmental, social e governance; em português: ambiental, social e governança). Essas três letras se referem a um conceito utilizado por investidores para analisar a realização ou não de investimentos financeiros em uma organização.
Trata-se de uma abordagem usada para avaliar até que ponto uma corporação atua em prol de objetivos socioambientais, para além de seu papel de gerar lucros em favor de empresários e acionistas.
Além de políticas de inclusão e diversidade, o “S” da sigla contempla temas como:
- Direitos humanos e trabalhistas;
- Impacto na comunidade;
- Incentivo à qualificação profissional;
- Satisfação dos colaboradores.
O “E”, ligado ao meio ambiente, está relacionado à preocupação com tópicos como:
- Mudanças climáticas;
- Desmatamento;
- Poluição;
- Uso de recursos naturais;
- Biodiversidade.
Finalmente, o “G” refere-se a temas como:
- Transparência fiscal;
- Ações de combate à corrupção;
- Gestão eficiente e inclusiva;
- Condutas disciplinares.
As buscas pelo termo ESG aumentaram dez vezes nos últimos dois anos, segundo dados do Google Trends. O indicador mostra como a sigla tem se popularizado entre consumidores e empresas.
Diante disso, as práticas ligadas à promoção da diversidade e da inclusão se tornaram, além de socialmente relevantes, estratégicas para os negócios.
De acordo com a pesquisa “Diversidade, equidade e inclusão nas organizações”, publicada pela Delloite, 81% das empresas possuem grupos de afinidade para reforçar temas de diversidade.
Ainda assim, muitas organizações ainda não investem de forma significativa em equipes dedicadas a colocar em prática um programa de ESG e de diversidade.
Como promover a diversidade cultural no ambiente de trabalho?
Não poderíamos finalizar este artigo sem algumas recomendações básicas para as empresas que buscam tornar o ambiente organizacional mais diverso e inclusivo. Confira:
- Analise objetivamente os níveis gerais de diversidade, de modo a focar em ações mais assertivas para melhorá-los;
- Amplie o alcance geográfico do recrutamento na empresa, de modo a alcançar mais potenciais candidatos que possuam um perfil diversificado;
- Crie grupos de trabalho focados em debater temas ligados à diversidade e à inclusão;
- Desenvolva treinamentos, palestras e dinâmicas que abordem a inclusão no ambiente corporativo;
- Foque na retenção dos talentos que já estão na companhia, considerando que a falta de oportunidades de crescimento pode gerar uma taxa de rotatividade maior entre alguns grupos;
- Conheça o seu clima organizacional e busque entender como os colaboradores se sentem sobre os tópicos mencionados ao longo deste artigo;
- Promova diversidade em diferentes níveis hierárquicos.
Esperamos que você tenha gostado deste artigo sobre diversidade cultural no ambiente de trabalho. Continue em nosso blog e confira também o nosso guia completo sobre Direito e povos indígenas no Brasil.